sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Cabo Verde...Sal

O táxi pára junto à entrada das Partidas do aeroporto da Portela. São cerca de 20h15. Estou a cumprir o horário planeado.

Pago ao taxista, agarro no meu fiel saco vermelho das viagens, na bolsa verde da máquina fotográfica e no saquito dos acessórios da mesma (já acusando as milhas imensas percorridas, pelo menos entre Lisboa / S. Miguel / Marrakech / Veneza /Praga).

Faço o check-in, solicitando como sempre um lagar de corredor, passo o controlo de passageiros e bagagem de mão.
Em frente ao free-shop e junto ao multibanco (onde normalmente carrego o(s) cartões de telemóvel) encontro a Ângela G. que vai passar o fim de semana a Barcelona.

É desta que vou substituir o saquito dos acessórios da máquina fotográfica por uma bolsinha vermelha que faz conjunto com o saco de viagem (para falar verdade, faço isto porque há muito que queria o macaquito que lá vem pendurado. Também o saco trazia um mas que perdi e que foi substuituido por um "chameau" que comprei em 2005 no aeroporto da minha cidade adoptiva).

Mas onde está o meu barzinho onde sempre como uma sandes de presunto e bebo uma coca-cola? Hum... está tudo em obras:-( Só me resta o Harrods e um outro. Pronto, rendo-me à evidência dos factos e degusto o meu munu de viagem no Harrods.

Começam a chamar para o voo com destino a Luanda - Porta 20... Eu vou para o Sal - Porta 19... Fico inquieta e penso: Será que vai ser sempre assim? Será que vou passar a vida sempre ao lado do caminho que julgo ser o meu?

Não consigo comer mais. Guardo a outra metade da sandes de presunto para quando chegar ao hotel. De certeza que há hora que lá chegar vou ter mais fome que agora.

Passo o controlo de passaportes, a porta 19 fica do meu lado esquerdo e a 20 do lado direito...páro, olho, desejava tanto seguir nesse voo... Quando chegará a minha vez? Sim, esse dia há-de chegar e vai ser em breve. Aliás, tem que chegar! São demasiados anos à espera.
Não consigo esquecer o dia em que parti e a tristeza sentida quando vi que não havia modo de se alterar a "sentença" que teria de embarcar no voo para a Metropole. Essa Metropole onde nunca gostei de vir, nem sequer de férias!
Deixa lá, há-de ser por pouco tempo, logo logo volto... já lá vão mais de 33 anos!! A idade em que Ele voltou para donde tinha vindo, para o Seu lugar certo. Também eu quero voltar para o meu lugar certo, para o continente onde nasci e do qual na realidade nunca me afastei.
É vou, vou para Cabo Verde... quem sabe seja o inicio de novos tempos?...

Falo com a minha Mãe, depois com o meu Pai. Estou no autocarro, já na pista, que me levará ao avião e que por sua vez me levará para o meu continente. Como gostava que eles pudessem vir comigo!!!...

Tenho ainda tempo para mandar uns sms ao Rui, à Candida e à Celeste. Estas duas acabam por me ligar quando já estou ao fundo das escadas do avião "Humberto Delgado".
O Luís, esse está a jantar bem acompanhado... no Hard Rock Café :-)

Subo as escadas, dirijo-me ao 17C, arrumo a bagagem de mão e instalo-me. Mas instalo-me tão tranquilamente como se estivesse a sentar-me em casa.
O avião começa a sua viagem rumo ao Sal(umas lágrimas de preocupação descem-me teimosamente pela face, continuo traumatizada...). Serão 4h e 20m de voo, anuncia o comandante. Há vento forte pela frente e apesar de sairmos à hora prevista (22h) chegaremos apenas à 1h20 ao destino.

Continuo tranquila e é desta forma que aterro no aeroporto Amilcar Cabral.
É necessário ter paciência e esperar calmamente no controlo de passaportes... não faz mal, estou finalmente de FERIAS!

"Chamo-me António". Muito prazer, respondo. "São duas pessoas, não é verdade?" Não, sou apenas eu :-) "Mas tenho indicação que seriam duas pessoas" Foi mais uma confusão da Tap Tours...

Um multibanco! Vou aproveitar e ficar já com uns quantos Escudos de Cabo Verde.

Entro na carrinha do António e onde está também o seu filhote que gosta de acompanhar o Pai sempre que o deixam. Segue ainda um outro amigo e colaborador do António.

Enquanto conduz rumo a Santa Maria, vai recordando tempos em que viveu em Lisboa, ma. Por volta do 25 Abril de 1974 resoveu regressar para Cabo Verde uma vez que a isso o aconselharam insistentemente alguma pessoas.
Trabalhava num Hotel a que chamou Metropole mas que pela localização julgo ser o Mundial. Localizava-se na Baixa perto do Martim Moniz e da praça ao lado da Praça D. Pedro V, dizia-me ele. Carregava as malas dos hópedes quando chegavam à Capital Portuguesa.
Recorda com saudade a "minha rua" de leição, a Avenida da Liberdade e também o Marquês de Pombal. Recorda os barcos pequenos que faziam a ligação das duas margens do rio (e continuam a faze-la, informo-o, os cacilheiros). Fala-me da Ponte que existia no rio e digo-lhe que agora já há uma outra que se chama Vasco da Gama. Confirmo-lhe que agora Lisboa está bastante diferente de quando a deixou. Até mesmo a "sua rua" e o Marquês de Pombal. O filhote está entusiasmadissimo a ouvir a nossa conversa e a verificar que o seu Pai ainda se recorda de muitos locais e que esses mesmos locais ainda hoje existem.

Chegamos ao Hotel Oásis Belorizonte.
Despeço-me do filhote com um aperto de mão e do amigo do António com um "salut marrocain"... Fico com o contacto telefónico do António que me acompanha à recepção.
Apenas quando se certifica de que está tudo bem com a minha reserva, se despede até ás 23h30 da próxima quinta-feira.

O empregado que me acompanha até ao bungalow vai-me explicando que a piscina à saída da recepção é de água doce enquanto que a outra mais perto dos meus aposentos é de água salgada. Comenta ainda que o hotel está cheio e que na sua maioria são turistas nórdicos. Portugueses vêm sobretudo nos meses de Julho e Agosto.

Quarto simples, espaçoso, simpático, limpo, com tudo o que poderei necessitar (tv, mini-bar, ar condicionado, secador de cabelo, wc com duche). Instalo-me. Tá-se bem!

Passa das 3h da manhã... a metade da sandes de presunto do Harrods... hummm... deito-me com o estômago aconchegadinho :-)

Boa noite!

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